28 junho, 2013

“SERES INSENSÍVEIS”


“Vi ontem um bicho. Na imundície do pátio. Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem.” (O BICHO de Manuel Bandeira Rio, 27 de dezembro de 1947).

De 1947 a 2013, pouca coisa mudou, aliás, nem todas. Hoje infelizmente vemos com mais naturalidade a mesma cena. Talvez estejamos cansados, anestesiados, enfastiados frente o sofrimento humano, talvez estejamos colocando botox na “alma”, e plastificando o sangue e a consciência.

Às vezes dirijo olhares distantes sobre esses seres “invisíveis”, e volto a mim mesmo com pesar quando escrevo. Eu também os trato como se não existissem, como se não estivessem a mendigar um olhar mais humano sobre o seu sofrimento.

Mantenho-nos distantes, desconfiados... Pré julgamos a condição alheia sem ao menos nos darmos conta de seus sofrimentos, de suas dores, de sua história. Recentemente perdi um parente que vagava pelas ruas, sem lenço, sem documentos, sem a dignidade usurpada pela sociedade que a muito o enxergava como um lixo ambulante, uma escoria que nos perturba para conseguir uns vinténs com o único objetivo de alimentar o vicio. Mas não sabem eles, não soube eu, que as dores, os sofrimentos, o desprezo foram insuportáveis demais para o frágil corpo humano.

“Vi ontem um bicho. Na imundície do pátio.” Não somente do pátio, nas esquinas das praças, nas vielas, em todas as partes.  Vejo seres invisíveis com uma frequência assustadora, vejo vidas destruídas, pessoas calejadas pela dor, vejo homens, mulheres, idosos e crianças a mendigar um pedaço de pão, uns poucos vinténs, um olhar mais humano. A realidade muitas vezes é cruel, a vida não é sempre um lindo sonho colorido, mas podemos sim mudá-la com menos discursos e mais atitude.   

Reflexão e Atitude,
Fernando Saraiva

19 junho, 2013

 "O SILÊNCIO DAS IGREJAS FRENTE O APELO POPULAR"



As luzes ainda raivam no dia 05 de junho de 2013, cerca de 50 mil “manifestantes” ligados a inúmeras igrejas cristãs evangélicas, tomam os “jardins” de Brasília capital do Brasil, com palavras de efeitos, alimentadas por uma “fé de mais”, gritam e  gesticulam sobre a liberdade de expressão, gritam querendo preservar o seu direito de humilhar pessoas que aceitaram assumir a sua forma de amar.  No dia 13 de junho, milhares de pessoas lotam as ruas da cidade de São Paulo, reivindicando não apenas a redução de R$ 0,20 centavos na tarifa do transporte público, mas sim mais de 500 anos de exploração por parte de políticos, que se utilizam do dinheiro público para fazer fortunas particulares.

Centenas de manifestantes foram presos, outros tantos sofreram agressões que podem resultar em serias sequelas para a vida inteira. Ao contrário do primeiro ato, nenhum desses manifestantes pertencia ao grupo de "manifestante" do dia 05 de junho de 2013. Nenhum líder da primeira manifestação tomou partido ou veio a público defender aqueles outros manifestantes que apanharam nas ruas da cidade paulista. O que se pode extrair disso tudo?  Que para alguns é mais perigoso para a nação a união de casais do mesmo sexo, do que a corrupção, a desvalorização, e descomprometimento de nossos lideres políticos, que lideram não somente uma igreja, não somente uma bandeira ideológica, mas toda uma nação! 

Ontem, 18 de junho de 2013. O Deputado Marco Feliciano (pastor evangélico em tempo integral), no já consagrado estilo de se fazer política em nosso país, enquanto todas as atenções estavam voltadas para os movimentos populares contrários a privatização do povo brasileiro, que está farto da extrema carga tributária e vitima de serviços precarizados e sucateados por falta de investimento dos governos, aprova a malfeitora "cura gay"! Que na verdade não passa da tentativa de IMPOR a supremacia de uma "elite santa", que de santa não tem nada!!! Que quer impor o seu estilo de vida como o único a ser seguido! Qualificando o amor que muitos possuem como doença. Recuso-me a acreditar que um dia estive do outro lado! Justamente eles que dizem ser a luz do mundo, o sal da terra, acabam por sua vez em atitudes como essas esfriando qualquer tipo de amor ou elo que se possa ter com o profeta Jesus. Que falava da necessidade de se cultivar o amor e não o ódio.

É triste pensar que tais lideres, que poderiam muito bem usar a influencia que exercessem (por que exercessem mesmo),  de seus fieis súditos/ clientes/ para lutarem por causas que realmente valem a pena. Triste pensar que a mesma teologia, que vitimou milhares na inquisição na idade média, que mostrou o terror do cristianismo ao mundo, ainda ocupe lugar nos corações dos “crentes” em pleno século XXI.

É lamentável vê que de todos os “pecados” o único e o mais terrível de todos, o amor, é punido com severidade e sem compaixão... Enquanto outros como o amor ao dinheiro (pastores riquíssimos que pregam a teologia da prosperidade), são vistos como heróis nacionais pelos evangélicos alucinados por LSD.  

Quão bom seria, e seria mesmo... Se os cristãos se parecessem mais com Cristo, do que com seus lideres malfeitores (pastores)... Que fossem aos templos e expulsassem os comerciantes que por lá vendiam e desvirtuavam o templo. que não fossem conformados com o presente século, mas que fossem transformados e transformadores da sociedade pela renovação de seu entendimento, talvez e só talvez... a luz pudesse ser enxergada por aqueles de nós que ainda não foram achados pelo caminho.

Reflexão e Vida


Fernando Saraiva

12 junho, 2013

"TEMPORALIDADE DO ÓDIO".


Desde que o mundo é mundo algumas pessoas tentam impor seus credos, seus pensamentos, seu modo particular de viver a vida, a qualquer custo e a qualquer preço a pessoas que nada tem a ver com as suas crenças particulares e o seu modo de vida. Quão bom seria se as pessoas respeitassem o espaço dos outros, as decisões particulares de cada individuo, seus relacionamentos, seus amores... Mas infelizmente alguns esquecem que todos somos igualmente participantes da mesma queda. 

Em minha teologia humana, inclusiva, e de certo modo tolerante, pois tolerância nunca existe em seu sentido completo, pois todos nós possuímos certa intolerância a intolerância com que alguns tratam a outros. Busco igualar as pessoas, não importando as inúmeras diferenças que compõe a complexidade do ser humano, pois conforme falei acima, todos somos igualmente participantes da mesma queda e somos achados pela mesma graça!

Não poucas vezes entrei em certos debates, que em seu fim último mostraram-se ineficazes e que de fato não levou a lugar nenhum. Nos últimos dois anos, o meu número de amigos foi reduzido drasticamente, única e exclusivamente pelas coisas que externalizei.

A grande verdade é que todo mundo sabe, que o discurso que produz ódio ao invés de amor, que desune e separa os seres humanos em classes antagônicas, negros x brancos, homens x mulheres, gays x heteros, ateus x religiosos deve ser combatido, deve ser rechaçado da mentalidade de nossas crianças. Ao invés de reproduzirmos os nossos preconceitos, a nossa intolerância, a nossa intransigência as gerações futuras, deveríamos ensiná-las a amar as diferenças, a respeitar o estranho aos nossos olhos, e a compartilhar da mesma graça que é pertencer à espécie humana, que não se define na singularidade da sexualidade, do tom da pele, ou das crenças religiosas, mas mostra na diversidade a sua maior herança para o universo.

Reflexão e Vida,
Fernando Saraiva  

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