13 junho, 2011


"LÁGRIMAS DE UM SOLISTA"


Apagam-se as luzes, abaixam as cortinas, cessa-se o som, tira-se a maquiagem, guarda-se o figurino, fechasse as portas do camarim.  Um suspiro solto a esmo, voltasse à realidade, que nem sempre é semelhante à peça de teatro que há poucos instantes era encenada nos palcos.

Os aplausos se perderam em meio à multidão de anônimos. A chuva que incidia no corpo encharcado de água, refletia o interior profanado por incontáveis magoas e sonhos coloridos pintados de cinza.  

Lá no quarto sombrio, do escritório escuro, estava ele, o personagem desta historia, a encenar mais um papel de sua vida. Não, as lágrimas que o solista derramava não eram fictícias, eram reais, eram sinceras, eram profundas, eram amargas.

Um pouco de pó maquiaria o sofrimento, as mascaras esconderia as olheiras e o sorriso disfarçaria a angustia. O soar de sua voz nos palcos comoviam os seus expectadores, no entanto uma sinfonia trágica o levava a cair em profundo desespero, era como se o seu grito de socorro não fosse ouvido e de fato não era.

Nos palcos era a estrela principal, pessoas ilustres pagavam rios de dinheiro somente para o vê atuando. No entanto seus dias iam passando diante de seus olhos como a neve que cai e logo derrete. Sua vida se resumia a um ensaio de si mesmo, um monologo de um só espectador, ele o solista. Sem amor, sem carinho, sem amigos, apenas o solista e o seu canto solitário, que refletia muito bem o que era a sua vida.

Quando as luzes do teatro se apagaram, não se ouvia mais nada. O solista encenou o seu último ato. Enfim descobrira que há vida por detrás dos palcos, há um mundo bem maior do que aquele que ele pensava existir.

Descobriu que há pessoas interessantes e interessadas em conversar, descobriu que há duetos, trios, quartetos. Descobriu um mundo no qual as suas lágrimas encontrariam mãos delicadas para enxugá-las, e que sempre teria alguém para compartilhar os seus sentimentos escondidos. Descobriu que a vida, não é uma apresentação solitária, ao contrario, que esta é sempre mais gostosa de viver quando se compartilha com alguém.

O solista não era um artista de verdade, ele era simplesmente uma alma que tinha saudades de algo que não conhecia.

Finalizo esta reflexão com as seguintes palavras “ O Senhor transformou as minhas lágrimas em dança alegre. Tirou as minhas roupas de luto e me vestiu com roupas de festa, para que eu cante louvores sem parar. Sim, Senhor meu Deus, eu sempre darei graças ao Senhor, por toda a minha vida ”. David,  rei em Israel 

Paz e Vida

Fernando Saraiva

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