28 janeiro, 2014

"ESPECTRO"



"...É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo... Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, Depende de quando e como você me vê passar. Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre" Clarice Lispector

O curioso da vida, é que volta e meia somos levados a sermos um alguém especifico, um alguém que em muitos casos não parece em nada conosco, com aquele que se revela na solidão do físico, e no encontro pessoal e individual que nos surpreende a noite, ou mesmo  durante o dia no vaguear distante de nossa mente ao corpo.  

Às vezes levamos anos construindo uma imagem sobre nós, e por vez nos tornamos refém  dela. Reféns daquilo que as pessoas possam acham sobre nós, e por que não daquilo mesmo que achamos a nosso respeito, policiando pensamentos, asfixiando sentimentos, abortando projetos, por enfim, remodelamos o destino e damos consistência a uma vida que vivida nos causa dor, frustração e um sabor amargo na boca de que poderia ser diferente!

A maquiagem que usamos para tampar as imperfeições que nos constroem, ou que dá vida às inúmeras faces que criamos, penetra não somente o aglomerado cutâneo que nos reveste, mas embrenha-se no espectro invisível de nosso ser, do qual passa a ditar as regras e normas que nos regem. Por fim, acabamos não existindo!

Pra’Q as roupas? __Queria correr livre pelo mundo!!! Não pise na grama! __ Eu quero sentir o chão!!! _Quero transgredir as leis da natureza, mais preso ao chão eu me encontro! Por vezes geramos o proibitivo, e nos adaptamos a ele, não devo amar fulano por que a sociedade não permite, não devo isso ou aquilo, sou isso, e não me convém aquilo! Como Clarice dissera Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente”.

Reflexão e Vida.

Fernando Saraiva
 

25 novembro, 2013

“A FÉ DOS FARISEUS”


"Religião é uma coisa confusa para todos, e particularmente para mim. Não existe uma religião que não condene algum tipo de comportamento. E eu acredito no amor e no perdão para todos". Lady Gaga

Enganam-se aqueles, que pensam que negando-se a si mesmo, encontrarão salvação para a sua alma,  e alento para o seu corpo.

Enganam-se aqueles, que pensam que precisamos agradar algum dos tantos deuses que se confundem diante de tantas idas e vindas de doutrinas mais confusas e estranhas ainda, para que no final não nos consuma em chamas!

Enganam-se aqueles, que pensam que negando-se aos prazeres da vida, alcançarão o perdão por pecados que não cometeram.

Engana-se aqueles, que pensam que cobrindo-se com vestes horrorosas, conseguirão esconder a beleza das curvas do corpo humano... Esquecem esses que nascemos nu?

Enganam-se aqueles, que pensam estarem certos sobre uma teoria sem notarem que existem tantas outras que estão na mesma posição de certeza.

Enganam-se aqueles, que usam o nome de deus para humilhar outros seres humanos, escondendo-se em algum dos intermináveis “livros sagrados” o seu preconceito inútil.

Enganam-se aqueles, que porventura inferiorizam outros seres humanos por sentirem-se inferiores!

Enganam-se aqueles, que em base de tudo o que foi dito, ainda acham que estão corretos em seus julgamentos, pois a fé que tanto ostentam, apenas refletem os seus preconceitos escondidos,  e o seu extremo e interminável medo de serem rejeitados naquilo que tanto se glorificam.

Reflexão e Vida.

Fernando Saraiva

03 novembro, 2013


"SÓ MAIS ALGUMAS HORAS".


 Imagem: Alix Cléo Roubaud 
27° Festival de Almada: O Quarto (Escuro) – Duplicações


Só mais algumas horas e todos vocês saberão, que a dor de viver foi mais forte do que a vontade de existir. Pensei muito, muito em todos os acontecimentos que me fizeram chegar nesse ponto, nessa encruzilhada! 

Fico a pensar agora, a alguns instantes de um ato milimetricamente estudado, que a tortura da madrugava fria, cálida, doentia, revelava-me o inevitável desfecho, como queria que fosse diferente, mas não! Não encontro mais razões, nenhuma boba e fútil razão... As dores são demasiadamente insuportáveis para um coração fragilizado, peço que assim que a noticia chegar aos seus ouvidos, que não me julguem, entendam que a anestesia total é a única solução possível, e eu estou me valendo dela nesse momento!

Em alguns dias, as lágrimas secarão, o meu rosto será uma suave lembrança, buscarão os motivos, levantarão as hipóteses, mas tardiamente encontrarão as respostas, aonde se esconderá o seu riso, e as suas lágrimas como não notamos... Serão algumas de suas interrogações, mas gentilmente peço-vos não percam tempo, com aquilo que já se foi!

Em alguns anos... Serei apenas uma lembrança no rosto cansado daqueles que realmente me amavam, serei lembrado como uma melancólica recordação no dia de meu aniversário, talvez acendam uma vela no dia de finados, quem sabe com o intuito de iluminar meu caminho ou ascender meus pensamentos... Não sei, fui me perdendo por entre as nuvens da amargura e da clareza dos dias que tanto orgulhava-me. 

Após algumas décadas, vejo entrar pelo portão, aqueles que abandonei em vida abraçando a morte, nessa hora eu vi, o quanto me custará não ter resistido só por mais algumas horas. 

Luz,

Fernando Saraiva

24 outubro, 2013

"MINISTÉRIOS ABENÇOADOS E ABENÇOADORES"


Imagem extraída de: 
 http://abrigo7.com/blog/tag/igreja 

Atualmente muitas denominações buscam implementar a pregação do evangelho com práticas administrativas empresarias, utilizando-se para isso de uma analise mercadológica da fé, modelos de sucesso são reproduzidos insistentemente, os 10 passos para crescer ministerialmente;  faça de sua igreja a casa da bênção; use a bíblia para prosperar... E entre outros permeia a mente e os escritórios de alguns lideres “evangelistas” de nossos dias.

Ministérios que proporcionem ascensão social, financeira, amorosa, são em muitos casos mais valorizados do que outros, estão mais na mídia, nas páginas de noticias “gospel”, bem, estão nas mentes de quase 45 milhões de evangélicos pelo país, e por que não de toda a população mundial!

“Igrejas” são abertas a cada momento, e chega a ser ridículo, uma do lado da outra, para quê isso mesmo? Bem, não sei ao certo! E se sei prefiro não falar, pelo menos agora.  

Transitando pelos canais da TV aberta, vejo cada ministério abençoado, testemunhos de “bênçãos” e mais “bênçãos”... Acho que esse negócio é bom! Vou pagar pra vê! Pagar? Não! Um milhão de vezes não!

Há muitos ministérios abençoados em nosso Brasil, e poucos são aqueles que realmente abençoam! VocÊ já notou que a igreja, esta que está na mídia sendo sufocada por campanhas e mais campanhas, está mais para o impostômetro do céu do que para Pedro e João em seu dialogo com um coxo a entrada da porta do templo, chamada Formosa?

Bem, os ministérios abençoadores... Eles não estão estampados nas placas de vitórias, de bênçãos, de sucesso profissional, que tristemente alguns de meus contemporâneos acabam por tropeçar em sua caminhada, os ministérios abençoadores são aqueles que dividem o que mais precioso existe na vida de um cristão, que é Cristo vivo em nós, e isso pode ser feito em um templo ou debaixo de uma bananeira, pois não importa o lugar e sim a pessoa!

Que em meio a essa crise compremos o verdadeiro ouro que provem das mãos limpas de Cristo.

Amém,
Fernando Saraiva

11 outubro, 2013

“APÓS ALGUNS ANOS”



Créditos Imagem: Poluição – Por Joanna de Ângela (espírito) e
 psicografado por Divaldo pereira Franco


Após alguns anos... Pude perceber o quanto eu mudei, o quanto minha mente divagara em inquietações, palavra esta usualmente encontrada por entre as densas camadas de minhas texturas escritas.

Em uma pequena mais significativa volta ao passado, por mais breve que seja, traz profundas, insondáveis e preciosas reflexões. Não estou a falar de nenhuma sessão de regressão, mais apenas de um autoexame conceitualmente espiritual, contextual e real da vida que se segue a minha, perguntas como de costume não poderiam faltar! Que convicções tinha, sonhos, medos, segredos, mistérios...? E hoje eles representam algo significativo? Ou tornaram-se sombras de um passado esquecido na reminiscência de minhas visões infantis?

Alguns anos antes... Como eu era? Como me enxergava? O que pensava?... Temo não saber as respostas, ou melhor sei que as não tenho!

Apropriando-me de um quadro televisivo dominical, questiono-me... O que eu vi da vida? O que a vida me apresentará nesses quase vinte e tantos anos de existência? O que eu faço dela? A desperdiço, a aproveito... Ou apenas a vivo? Mas outro conceito me abate... O que é viver? Será que faz algum sentido tudo isso? O que eu sou hoje... reflete o que eu era antes? Ou melhor, o que eu fui? Ou continuo ser... Não sendo exatamente o que fui? Não sei... Às vezes não reconheço a tenaz criança de outrora, mas por vezes vejo-me a preservar os mesmos sonhos de antes, remodelados na turva visão de quem vai se distanciando da criança passada que já não existe mais, mas que teimar a querer regressar e tomar um lugar que já não lhe pertence nessa existência transitória de agora.  

Nessa abstinência de mim mesmo, vou contando os passos sem saber aonde chegar, onde reclinar a cabeça e admoestar a alma.  A vagar pela terra encontra-se nesse momento um ser que cuja existência é um mistério e a vida um amontoado de incontáveis inquietações que se somam e multiplicam-se a “eternificação” metafórica de respostas inalcançáveis e miseravelmente almejadas!  Sim, após alguns anos... Ainda estou eu cá a procura-me por entre as teias que constituem o que sou!

Luz e Vida.

Fernando Saraiva

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